Christine Kenneally
Diante de imagens de estranhas criaturas de argila que exibiam cabeças proeminentes e membros pontudos, alunos da Universidade Carnegie Mellon foram convidados a identificar quais eram os "alienígenas" amistosos e quais eram os hostis. Os estudantes não foram informados de que os alienígenas se enquadravam naturalmente em dois grupos, embora as diferenças fossem sutis e não muito perceptíveis. Alguns deles tinham cabeças de formato grosseiro, repletas de calombos. Outros tinham crânios mais lisos. Depois que os alunos atribuíram uma categoria a cada alienígena, foram informados quanto ao acerto de suas escolhas, e descobriram com isso que os alienígenas de cabeça lisa eram amistosos, e os demais, hostis.
O responsável pela experiência, Gary Lupyan, que está pesquisando para seu pós-doutorado na Universidade Cornell, acrescentou uma pequena informação a um dos grupos de teste. Ele informou ao grupo que participantes anteriores haviam descoberto que designar os alienígenas amistosos como "leebish" e os outros como "grecious", ou vice-versa, ajudava na tarefa.
Quando os participantes foram informados quanto ao seu índice de acertos, também o foram sobre o rótulo que se aplicava a cada grupo. Todos os participantes terminaram aprendendo como diferenciar os alienígenas, mas os grupos que utilizavam os nomes aprenderam muito mais rápido. O ator de nomear, concluiu Lupyan, nos ajuda a formar categorias mentais.
A constatação não parece surpreendente, mas alimenta um dos lados em um debate tradicional sobre a linguagem e a percepção, incluindo o pensamento que cria e nomeia grupos. Em termos simplificados, o debate quer determinar se a linguagem dá forma àquilo que percebemos, uma posição associada a Benjamin Lee Whorf, ou se nossas percepções constituem puras impressões sensoriais, imunes às maneiras arbitrárias pela qual a linguagem ordena o mundo.
As mais recentes pesquisas alteram a estrutura e talvez os termos do debate, ao sugerir que a linguagem claramente afeta certas formas de pensamento, como um equipamento especial anexado a um pacote antigo de capacitações mentais. Da mesma maneira que acrescentar recursos a uma câmera digital ou celular pode oferecer resultados inesperados e desfavoráveis, a linguagem nem sempre ajuda. Em geral, ela serve para tornar o pensamento mais eficiente. Mas também pode causar tropeços.
O tema tradicional do debate quanto a linguagem e percepção é a cor. Pesquisadores tentaram determinar se as linguagens afetam a maneira pela qual as pessoas percebem a cor. O inglês, por exemplo, distingue o verde do azul. A maioria das demais línguas não faz essa distinção. Seria possível que apenas as pessoas que falam inglês vissem essas cores como diferentes?
As investigações passadas apresentaram resultados inconclusivos. Algumas experiências sugeriam que a terminologia referente às cores influenciava as pessoas no momento da percepção. Outras sugeriam que o efeito da linguagem só era percebido depois que alguma percepção básica tivesse ocorrido. O consenso era o de que formas diferentes de rotular cores provavelmente não afetavam de maneira sistemática a percepção das cores.
No ano passado, Lara Boroditsky e colegas publicaram um estudo na Proceedings of the National Academy of Sciences demonstrando que a linguagem podia afetar de maneira significativa a rapidez com que as percepções de cor são categorizadas. Pessoas que falam russo e inglês foram convidadas a observar três blocos de cores e dizer quais dois, entre eles, eram iguais.
Os russófonos precisavam distinguir entre azul claro, ou "goluboy", e azul escuro, ou "siniy", enquanto os anglófonos não precisavam, e usavam "blue" para todos os matizes. Se fossem exibidos três blocos aos russos, dois goluboy e um siniy, ou o oposto, eles identificavam as duas cores iguais mais rápido do que em casos de três quadrados de um mesmo grupo de azul. O inglês não apresenta distinções de denominação entre diferentes azuis, e os anglófonos apresentavam resultados semelhantes com qualquer mistura de tons.
Em dois testes diferentes, os participantes foram convidados a executar uma tarefa não-verbal ao mesmo tempo em que realizavam a busca de cores semelhantes. Quando os russos executavam as duas tarefas simultaneamente, continuavam em vantagem na equiparação de cortes. Mas se a segunda tarefa fosse verbal, a vantagem começava a desaparecer. Essa desaceleração sugere que a velocidade de suas reações não resultava apenas de diferenças aprendidas, mas que a linguagem estava envolvida de maneira ativa na identificação das cores, à medida que o teste se desenrolava.
Lupyan também investigou a velocidade com que os efeitos da linguagem se fazem sentir. Em uma experiência, ele solicitou que estudantes observassem uma tela de computador na qual o número 2 aparecia uma vez e o número 5 era repetido diversas vezes, em um círculo. Em centenas de testes nos quais as posições dos dois números se alternavam, os participantes eram instruídos a "encontrar o alvo" ou "encontrar o 2".
Sempre que eles ouviam a palavra "dois", encontravam o algarismo mais rápido. E encontravam o 2 ainda mais rápido quando instruídos a "ignorar o 5", em oposição a "ignorar as distrações". Nesses casos, sugere Lupyan, a linguagem está "lubrificando o mecanismo da percepção".
Tradução: Paulo Migliacci ME
The New York Times Do site: http://www.terra.com.br/